Sempre que uma atividade vai sendo concluída, penso que assim seguem os ciclos da vida...
Nos últimos dias, após um ano do curso de Especialização Tecnologia e Novas Educações (Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia), cinco orientandas minhas apresentaram suas monografias. Foram momentos muito especiais para estas meninas igualmente especiais, ao mesmo tempo que um momento de grande orgulho para mim!
Cada uma em seu contexto de prática docente, investigaram aspectos das tecnologias da informação e comunicação em seu fazer docente, seja investigando como os professores se apropriam delas, como elas se fazem presente em sua formação e espaço de atuação, ou mesmo como tem explorado suas potencialidades (como no caso dos blogs). Todas partiram de situações problemáticas encontradas em sua prática cotidiana, imergindo inquietamente em busca de subsídios para melhor compreensão do tema, ao mesmo tempo que buscavam um aporte teórico sustentável, tecendo análises muito pertinentes. A pesquisa qualitativa deu aporte metodológico e epistemológico, sendo a Análise Textual Discursiva premente na maioria dos trabalhos (em outro post devo falar mais sobre isso).
Este esforço analítico da realidade também levou a um repensar da própria realidade, num movimento reconstrutivo. As ideias, prenhas de sentido, assim como o parto, por vezes geraram processos dolorosos, de questionamentos de certezas, de descontrução de verdades construídas, do olhar sensível e aberto ao novo, da busca da compreensão da realidade não tomando o espelho como única verdade.
Com isso, os trabalhos destacaram aspectos importantes da formação de professores e da prática docente em relação às tecnologias. Ao mesmo tempo que alguns aspectos dos resultados se apresentaram de maneira bastante incisiva, outros questionamentos emergiram:
- a formação inicial dos professores não dá conta da prática docente com as tecnologias.
- talvez mais importante do que pensar que é necessário inserir mais disciplinas obrigatórias com este escopo nas licenciaturas, seja trabalhar com uma concepção de que, como o conhecimento não é algo acabado, a formação dos sujeitos também não o é, preparando o docente para a pesquisa, para o novo, para a reflexão.
- é importante que os diversos setores da sociedade reconheçam os espaços por onde transitamos como espaços de formação. Assim sendo, a escola é um importante espaço de formação ao próprio professor, que deixa de ocupar o lugar de detentor absoluto do saber.
- para isso, é necessário prever (nos documentos, inclusive) espaços e estatégias de diálogo, de interlocução, de emersão de novas práticas. Neste contexto, os maiores entraves parecem não estar propriamente nas tecnologias: como é possível utilizar o momento de AC efetivamente como planejamento, diálogo e avaliação, se este tempo é totalmente tomado pelas burocracias e papeladas que o professor deve preencher? Como pensar em um olhar mais atento e direcionado às necessidades dos educandos, se o professor tem turmas imensas, em salas inadequadas? Como o professor pode desencadear um processo reflexivo se ele mal tem tempo de comer entre a correria entre uma turma e outra, entre uma escola e outra? Como pensar em novas educações se parece ser uma premissa da educação que esta pode acontecer em qualquer lugar, sem qualquer preocupação com a infraestrutura das escolas? Será o professor, sozinho, o responsável por estas transformações e superações?
- no processo de educar, faz-se urgente chamar para dentro da escola todos os agentes envolvidos no processo, principalmente pais e comunidade. Alguns assuntos precisam ser discutidos francamente entre professores e com os demais agentes, como, por exemplo, a presença das crianças na internet. Não é justo reprimir um professor que coloca seus alunos como co-autores em um blog, alegando que as crianças estão expostas na web... por outro lado, esta é uma responsabilidade gigante!
- não podemos esperar que as escolas tenham todas as condições do mundo para começarmos a pensar em práticas coerentes com o contexto contemporâneo, onde as tecnologias estão imersas. Por outro lado, devemos lutar por boas condições infraestruturais, o que envolve a atuação dos diversos sujeitos envolvidos. Isso começa com o professor que desencaixota o computador; passa pelo gestor, que deve pensar junto com os professores as formas de uso dos espaços da escola, além de abrir espaço para novas demandas; passa também pela comunidade, que também é dona disso tudo; passa muito fortemente pelo setor público, que precisa urgentemente olhar com carinho e responsabilidade para nossas escolas.
Enfim, foram cinco monografias que desvelaram aspectos intrínsecos à formação e prática docente em relação às tecnologias da informação e comunicação, ao mesmo tempo que apontam questionamentos e a necessidade de repensarmos aspectos vigentes. Enfim, são trabalhos que valem a leitura!
Aproveito para dar os parabéns à estas "meninas" guerreiras que, mesmo fazendo parte deste contexto tão problemático descrito (e talvez até por isso...), com todas as inqueitações inerentes ao ser humano, conseguiram superar as dificuldades e apresentar estes resultados muito bons. Aproveito também para agadecer às professoras das bancas (Salete Cordeiro, Joseilda 'Sule' Sampaio e Marildes Caldeira), pelas leituras atentas e pelas gentis considerações em busca da melhoria dos trabalhos.
Em breve pretendo divulgar o link onde cada um poderá acessar o arquivo das monografias, mas por enquanto seguem os títulos das mesas:
- Apropriação das tecnologias da informação e comunicação no fazer docente, por Carla Claudia de Santana Santana
- A escola como espaço de formação continuada de professores: equacionando as demandas formativas em tecnologias da informação e comunicação, por Fátima Falci Ferreira
- O educador e a formação continuada em serviço: formando-se para o uso das tecnologias da informação e comunicação, por Lusiane Carvalho da Silva
- Necessidades formativas dos professores e sua relação ao uso das TIC: um estudo de caso com professores de uma escola municipal de Salvador/BA, por Manuela Santana dos Santos
- Blogs: fomento à produção textual em salas de aula do ensino fundamental, por
Patrícia Michele Muniz Vilas Boas
Espero que, mais do que o fim de mais um ciclo da vida, este momento seja o reinício de tantos outros, tão mais promissores!