sábado, abril 22, 2006

Redes – o Padrão da Vida


Depois de apreciar a importância do padrão para a compreensão da vida, podemos agora indagar: “Há um padrão comum de organização que pode ser identificado em todos os organismos vivos?” Veremos que este é realmente o caso. Esse padrão de organização, comum a todos os sistemas vivos, será discutido detalhadamente mais adiante. Sua propriedade mais importante é a de que é um padrão de rede. Onde quer que encontremos sistemas vivos – organismos, partes de organismos ou comunidades de organismos – podemos observar que seus componentes estão arranjados à maneira de rede. Sempre que olhamos para a vida, olhamos para redes. Esse reconhecimento ingressou na ciência na década de 20, quando os ecologistas começaram a estudar teias alimentares. Logo depois diso, reconhecendo a rede como o padrão geral da vida, os pensadores sistêmicos estenderam modelos de redes a todos os níveis sistêmicos. Os ciberneticistas, em particular, tentaram compreender o cérebro como uma rede neural e desenvolveram técnicas matemáticas especiais para analisar seus padrões. A estrutura do cérebro humano é imensamente complexa. Contém cerca de 10 bilhões de junções (sinapses). Todo cérebro pode ser dividido em subseções, ou sub-redes, que se comunicam umas com as outras à maneira de rede. Tudo isso resulta em intrincados padrões de teias entrelaçadas, teias aninhadas dentro de teias maiores.

A primeira e mais óbvia propriedade de qualquer rede é sua não-linearidade – ela se estende em todas a direções. Desse modo, as relações num padrão de rede são relações não-lineares. Em particular, uma influência, ou mensagem, pode viajar ao longo de um caminho cíclico, que poderá se tornar um laço de realimentação. O conceito de realimentação está intimamente ligado com o padrão de rede.

Devido ao fato de que as redes de comunicação podem gerar laços de realimentação, elas podem adquirir a capacidade de regular a si mesmas. Por exemplo, uma comunidade que mantém uma rede ativa de comunicação aprenderá com seus erros, pois as conseqüências de um erro se espalharão por toda a rede e retornarão para a fonte ao longo de laços de realimentação. Desse modo, a comunidade pode corrigir seus erros, regular a si mesma e organizar a si mesma. Realmente, a auto-organização emergiu talvez como a concepção central da visão sistêmica da vida, e, assim como as concepções de realimentação e de auto-regulação, está estreitamente ligada a redes. O padrão da vida, poderíamos dizer, é um padrão de rede capaz de auto-organização. Esta é uma definição simples e, não obstante, baseia-se em recentes descobertas feitas na própria linha de frente da ciência.

CAPRA, Fritjof. A teia da vida : uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Cultrix, São Paulo, 1996. (pp77-78)

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