quarta-feira, março 28, 2012

Política, Cultura e Tecnologias

Olá

Hoje fui provocada por uma ex-aluna, que pretendia escrever algo sobre a articulação entre Política, Cultura e Tecnologias, mas que encontrava alguma dificuldade em amarrar os temas com a cultura.... E me relatou algumas coisas que temos visto ultimamente: textos que abordam as TIC como algo que interfere na cultura dos povos, em suas identidades, de modo negativo. No relato dela "Falam que a cultura dos países desenvolvidos terminam por adentrar a cultura de diversos povos, interferindo em suas identidades."

Tentei, rapidamente, escrever algumas linhas sobre o assunto, mas seria interessante ter a opinião de outros.

De maneira geral, eu defendo que a tríade Ciência, Tecnologia e Sociedade é idissociável, sendo parte da cultura e, como tal, deve ser considerada perante as políticas públicas. Ou seja, não podemos pensar tecnologia apenas como uma disciplina de informática que entra na escola, mas como parte integrante do desenvolvimento científico-tecnológico. Da mesma forma, a tecnologia não é algo que vem de fora para dentro da escola, como se a escola tivesse que correr atrás de um tempo perdido em que ela esteve à margem da sociedade, porque a escola é parte da sociedade e contribui para que ela tenha a conformação contemporânea (a escola contribui, seja por sua ação ou por sua omissão). E nisto entra a cultura, não como algo estático e a ser mantido intocável, mas como um movimento fluido, em constante transformação, onde as TIC entram como um dos elementos que vão transformando as culturas - assim como as culturas vão dando novas caras às tecnologias! Afinal, o que determina a identidade de um povo se não seus hábitos e costumes - com conformação histórica, claro - no momento contemporâneo?

E você, o que pensa?

10 comentários:

Fernanda Oliveira disse...

ceOlá professora Adriane, inicialmente, obrigada pela ajuda!

Sim, o que traduz a identidade de um grupo social são seus hábitos e costumes, ou seja, a sua cultura.
Eu não tinha identificado o tema ainda por este viés.

Interferências mútuas, num ciclo, através do qual as tecnologias modificam hábitos, mas, ao mesmo tempo, elas são desenvolvidas justamente para adaptar ou melhorar, facilitar ou mesmo transformar hábitos, conforme as necessidades dos indivíduos.

Costumes bancários, de comunicação, na relação entre prestador de serviço e consumidor foram modificados, para atender as necessidades de um número cada vez maior de indivíduos, com anseios de melhores serviços e agilidade, por exemplo. Tudo isto como parte da própria evolução humana.

A política como o instrumento para estabelecer a organização do Estado, visando o bem comum da coletividade, determina as regras, coordena ou administra o uso destas tecnologias a serviço do indivíduo.

Acredito que, por isso, muitos textos dos quais eu encontrei trás o receio sobre a destruição de modos de cultura através da adesão a comportamentos típicos de outros grupos sociais como um aspecto negativo.

Países desenvolvidos coordenam o surgimento de tecnologias cada vez mais avançadas. Grupos políticos de outras nações menos desenvolvidas veem com receio a entrada destes avanços em seus países e sua influência no comportamento das pessoas. Principalmente em países com regras ou comportamento rígidos, como em algumas ditaduras que ainda insistem em existir.

Janio Paim disse...

Oi, Fernanda!

Sim... o momento histórico determina com serão estabelecidas as relações entre sociedade e tecnologia, conforme o interesse dos grupos dominantes. Esses interesses tendem a moldar a educação e o desenvolvimento de tecnologias. A política, com suas ideologias, e as suas leis trata de nortear, e limitar, o crescimento das tecnologias. Implicando diretamente na cultura de um país. Temos que ter sensibilidade para perceber as intencionalidades politicas na representção da cultura local.

Adriane disse...

interessantes comentários...

Historicamente, há um movimento de fora para dentro, de cima para baixo, de "importação" de tecnologias de países mais ricos.
Mas isso também não acontece apenas com as tecnologias. Não podemos negar, isto também acaba fazendo parte da nossa cultura! Ou vá me dizer que já não viu gente que faz economia a vida toda para, em alguma hora na vida, poder viajar para a Europa, não pelo prazer de viajar e conhecer coisas novas, mas pelo status que há em poder dizer que passou alguns dias da sua vida em um "lugar desenvolvido"? Ou quem acha que os produtos importados são melhores que os nacionais simplesmente por serem importados?
Nem poderia ser diferente com as tecnologias...
Mas será que não temos recursos ou condições?
Pelo contrário! Somos um país riquíssimo: por exemplo, pense o que aconteceria se cuidarmos melhor das patentes das plantas que os extrangeiros vem e cabam registrando em seus países, como sua propriedade... Além de rico (mesmo não sabendo aproveitar isso direito), temos também o mais importante: capital humano! Gente inteligente, que dá jeito nas coisas, encontra e consegue desenvolver soluções interessantes mesmo nas situações adversas.
E é aí que entra o poder público: é necessário investir em ciência e tecnologia. Por exemplo, não precisamos ir nem muito longe: porque o governo no nosso estado gastou mais dinheiro comprando licenças de softwares proprietários do que gasta no mandato inteiro com formação de pessoas? Será que não seria interessante pensar a longo prazo e criar condições para produção de conhecimento, de tecnologia, de soluções feitas por pessoas que conhecem os problemas que vivemos?
Mas para isso também é necessário investir na educação como um todo, em todos os nívies.
E mais do que isso, saber lidar com questões culturais.
Eu, particularmente, acho que tem coisas que podemos largar de mão, como, por exemplo, achar que só é bonito o que nos vem na estética da rede globo. Porque não é, mas aprendemos a acostumar nossos olhos a isso e achamos que isto [ou melhor, só isso] é o belo.

Por isso política, tecnologia e cultura são inseparáveis. E temos que entendê-las como tal. As tecnologias não são neutras, as políticas não são despropositadas e cultura não é estática, tampouco é só o que nos vendem como "mercado cultural".

Fernanda Oliveira disse...

Olá Professora Adriane e Janio,
Reconheço também uma intencionalidade do poder público quanto ao uso das tecnologias e na escolha de suas ferramentas.
Lembro que o governo levou certo tempo na escolha do tipo de TV Digital que o Brasil iria aderir. O País não buscou produzir o seu modelo, a sua tecnologia. Mas promoveu um longo debate entre as grandes redes de TV, grande interessadas, e outras pessoas jurídicas com igual interesse no padrão que seria adotado. Modelo americano, europeu, japonês entraram na discussão. Foi escolhido o padrão japonês.
A Rede Globo, uma das grandes interessadas, sempre buscou padrões americanos em sua grade de programação, até no design da abertura de seus programas. Transmite, pois, uma cultura que não é necessariamente nacional. Temos poucos programas produzidos com estrutura totalmente nacional. As pessoas terminaram, pois, tomando a Rede Globo como modelo de qualidade, como se não tivéssemos ou pudéssemos produzir programas com qualidade igual ou superior.
Estes modelos transmitidos pela TV, por exemplo, trazem comportamentos assumidos por crianças e jovens, que terminam por modificar também as relações dentro da escola.

Fernanda Oliveira disse...

Li a pouco tempo no site da Veja "China censura microblogs por ‘rumores sobre golpe'"

Link aqui: http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/china-censura-microblogs-por-%E2%80%98rumores-sobre-golpe%E2%80%99

Um país com um regime que ainda tenta ser muito rígido, fechado, num momento de grande crise, vale-se, como sempre, da censura.

São seus políticos na tentativa de segurar uma cultura enraizada num regime que alimenta seu poder.

Enquanto as tecnologias da Informação e Comunicação tentam vencer barreiras e lançam na rede informações que circulam entre os descontentes pelo regime de governo, este tenta detê-los.

Também haveria neste caso uma relação entre Política, Cultura e Tecnologias?

jacelia@gmail.com disse...

Olá professora Adriane e colegas,
Que interessante é esta troca de informações!Observa-se que a tecnologia também acompanha a evolução política e cultural de um povo,é evidente que o Estado que regulamenta as Leis, é responsável pelo desenvolvimento da sociedade o que a faz avançar ou ficar estagnada. No Brasil,caminha em passos lentos porque para usar tecnologia avançada precisa de contratos milionários com governos ou empresas estrangeiras, como ocorre com as redes de televisão. A escola, por sua vez, ainda se encontra às avessas no sentido do crescimento, pois primeiro adquire os hardwares e softwares para depois pensar como dar formação na área tecnológica aos seus educadores e educandos, que muitas vezes, os educadores não são liberados para tal aperfeiçoamento. O pior é o "faz de conta". Na maioria das escolas públicas existe uma sala de informática, e muitas delas encontram-se obsoletas, os softwares que adquirem geralmente são raramente utilizados devido a incompatibilidade dos que estão e entram no mercado atual. O currículo escolar do ensino básico mantém a mesma estrutura de 50 anos atrás, pouco mudou, dessa forma,como a educação e cultura podem acompanhar o processo de desenvolvimento tecnológico?

Anônimo disse...

Olá professora Adriane e colegas,
Que interessante é esta troca de informações!Observa-se que a tecnologia também acompanha a evolução política e cultural de um povo,é evidente que o Estado que regulamenta as Leis, é responsável pelo desenvolvimento da sociedade o que a faz avançar ou ficar estagnada. No Brasil,caminha em passos lentos porque para usar tecnologia avançada precisa de contratos milionários com governos ou empresas estrangeiras, como ocorre com as redes de televisão. A escola, por sua vez, ainda se encontra às avessas no sentido do crescimento, pois primeiro adquire os hardwares e softwares para depois pensar como dar formação na área tecnológica aos seus educadores e educandos, que muitas vezes, os educadores não são liberados para tal aperfeiçoamento. O pior é o "faz de conta". Na maioria das escolas públicas existe uma sala de informática, e muitas delas encontram-se obsoletas, os softwares que adquirem geralmente são raramente utilizados devido a incompatibilidade dos que estão e entram no mercado atual. O currículo escolar do ensino básico mantém a mesma estrutura de 50 anos atrás, pouco mudou, dessa forma,como a educação e cultura podem acompanhar o processo de desenvolvimento tecnológico?

Jacelia Tosta

Anônimo disse...

Olá, pessoal!!

Refleti um pouco sobre o comentário da profª sobre o tratamento que a sociedade dá à educação e tecnologia. E como atualmente estou em sala de aula como professora de um projeto de inclusão sociodigital, percebo que as coisas ainda vão muito além de simplistemnete separar as aulas de informática das outras disciplinas tratando-a como aula extra, mas a seriedade que se é dada a esta aula no ambiente educacional é muito pouca. Percebemos a necessidade do hoemem está cada vez mais inserido no mundo tecnológico. Pois, há uma avalanche de informações tecnológicas que se atualizam a cada segundo, e que precisa ser compartilhada com a massa popular, deixando de estar circulando apenas na classe dominante.
Se é no meio educacional, principalmente nas escolas que as informações os conhecimentos são trocados e construídos por que não as considerar-mos e trazermos essas informações para dentro desse ambinete? E por mais que existam intenções, ações com essas fundamentações a suas práticas ainda deixam a desejar.
Pois bem meus colegas, o que vejo é que a tecnologia na escola é algo a parte, superficial e sem muito valor. E com isso, com tanta indiferença não permitimos que a tecnologia faça parte da nossa vida, pois percebemo-as mas não a vivenciamos.
Em um mundo capitalista, em que o poder do capital domina, realmente será difícil para a classe popular deter e ter acessibilidade a esses conhecimentos tecnológicos .

Vanessa santos

Adriane disse...

Que belos comentários!

Gostaria de provocar um pouco mais:
As tecnologias fazem parte da nossa cultura, correto? Ciência, tecnologia e sociedade vão se desenvolvendo mutuamente, correto?
Então, se consideramos ciência e tecnologia como intrínseca da cultura contemporânea, como se explica a inserção das tecnologias na escola em um local e horário separado das demais práticas?
Ah... há lá sua explicação histórica para isso.
Mas, ao mesmo tempo que as ações presentes são "condicionadas" pela sua história, não são por ela "determinadas" [e que bom que é assim!]. É inegável o desconforto que políticas equivocadas provocam [bom sinal, ainda não nos acomodamos] e que, em contrapartida, temos muitas iniciativas muito legais. E vamos aprendendo com tudo isso, com o que deu e com o que não deu certo.

Mas, se pensamos ciência e tecnologia como culura, fato é que não adianta manter o laboratório enjaulado [não é assim que parece com aquelas grades cadeadas?], tampouco como "apenas" competência do professor ou técnico do laboratório. Se há lá seu tanto de ciência e tecnologia em cada cantinho da escola, por que não potencializar ali sua presença?

Que tal espalhar pela escola os computadores, em cada sala, pelos corredores e demais espaços?
Ah, vai quebrar? Não é o que vemos quando se tenta fazer isto. Mas, e mesmo que quebre [o computador da sua casa, que você cuida com todo amor e carinho, não quebra?], o valor dele ainda é menor do que o capital humano produzido.

Ah, mas aí, novamente, nos voltamos às políticas públicas. Se um gestor tem receio de que algum equipamento quebre, é sabendo da dificuldade que existe em adquirir outro. Porque [será que] deveria ser assim? Se um professor se assusta com o fato de ter um computador na sala, como se já não bastassem as 30 almas encapetadas que tem para cuidar, falta-lhe formação. Porque não se investe mais nisto? [a questão do aluno "encapetado" também envolve muitas outras questões, da família e da sociedade como um todo, mas essa é conversa para novas conversas]

Enfim, me parece que um importante passo para uma articulação efetiva entre tecnologias e escola é considerá-las como parte intrínseca da cultura e da sociedade contemporânea. Isso mesmo. Escola como parte da sociedade, não como uma bolha, onde todo mundo acha que pode jogar um anexo de fora para dentro, e que o professor precisa "correr atrás do que a sociedade lhe impõem" com se dela não fizesse parte. Ao contrário, sociedade, escola, sujeitos, tecnologias, identidade, tudo isto se constitui nos fluxos de suas relações.

Fernanda Oliveira disse...

Olá colegas e professora!

Realmente, a tecnologia sempre esteve estanque, num espaço reservado na escola, mas não perpassando as diversas atividades na vida escolar, como algo intrínseco ao contexto.

São os laboratórios, o som, o DVD, a televisão...

São poucas as escolas particulares que estão seguindo uma tendência diferente.

A escola pública poderia assumir outra postura se não estivesse isolado as tecnologias das quais dispõe, como um anexo na atividade educacional.

No grupo de estudo do NTE do Município de Salvador vi que estavam discutindo sobre letramento digital, do qual não consegui comentar, pois não faço parte. Nos comentários percebi que os conceitos que ali eram debatidos, giravam ainda em torno de um mundo tecnológico que precisava entrar na escola, ultrapassar seus muros, fazer parte dela, de fora para dentro.

Mas não como algo que a escola poderia construir junto, redimensionando ou reestruturando seus usos. Assim, reconduzir-se ao processo histórico de forma ativa, assumindo sua responsabilidade como parte importante na evolução da humanidade.